AIYA: Aline Boni e suas criações místicas

8/05/2013

E aí, pessoas! Hoje queria apresentar para vocês uma nova loja online com um conceito que tenho apreciado cada vez mais nos últimos tempos, que são os temas místicos, do ocultismo e mesmo do paganismo. Já em 2011 e 2012 comecei a ouvir mais neofolk e depois disso fui descobrindo outros "folks" da vida e daí fui me entremeando em assuntos relacionados, dando uma nova olhada nessas temáticas mais voltadas à natureza, mas só fui dar atenção de verdade esse ano. E assim conheci a Aiya, que foi criada há dez meses pela designer e artista Aline Boni, personagem da entrevista desse post!

Aline nasceu em São Paulo, mas ainda muito nova se mudou para Cerquilho e hoje, aos 23 anos, mora em Indaiatuba, cidade do interior de São Paulo. "Meu pai é policial militar, hoje aposentado, e com minha vinda ao mundo, ele ficou com medo de eu acabar o perdendo e resolveu se mudar para o interior, na mesma cidade que meus avós maternos já moravam", ela conta, lembrando que, à época, Cerquilho não possuía uma clara divisão entre o que era a zona rural e a urbana: "Se atualmente a cidade tem 46 mil habitantes, imagina 20 anos atrás. Lembro que minha rua, que fica no centro, era de terra! Mesmo hoje, atrás da casa dos meus pais, tem um pasto enorme com uma reserva florestal e uma nascente. A cidade é tão pequena que nem ônibus circular tem. Esse ano inauguraram (sim, teve 'festa') o primeiro semáforo!".

Cerquilho - Foto de Adriano Cubas, editada por mim

Aline cresceu num mundo de cidade pequena ou, em suas palavras, de cidade "minúscula", de "povinho quase da roça e de língua afiada". Ocupava suas tardes à beira de riachos, pescando com o pai, fazendo trilhas no meio do mato com os amigos ou correndo às margens do rio que passava pela chácara da avó, quem teria um papel fundamental para seu futuro como artista. "Como meus pais sempre estavam trabalhando, eu acabava ficando na casa da vó quase a semana toda, e ela sendo artista plástica e educadora me ensinava o que conseguia sobre arte. Ela é uma pessoa incrível. A gente sempre teve uma ligação muito forte", recorda.


Aline explica que, na verdade, a conexão profunda que sente com a avó tem a ver não só com esta, mas com todas as mulheres de sua família. "Temos jóias que são passadas há anos e coisas desse tipo. Além disso, são mulheres fortes, todas são completamente independentes, ocupam posições até maiores que os homens da casa", explica. No caso específico de sua avó, formada em artes industriais, que é um curso já inexistente pelo fato de suas funções terem sido quase totalmente substituídas por máquinas, Aline conta que ela tentava lhe explicar como trabalhar com diversos materiais, até com cobre, mas sua atenção era muito mais voltada à tinta. "Com tanto tempo de pintura, a casa dela é forrada de quadros. A parede toda. Até na garagem. Onde você olha tem uma tela, uma pintura, uma arte. Ela passava tardes me contando sobre os movimentos artísticos e seus principais pintores, o que eles fizeram. E ela passou esse amor pela arte para mim".


Com uma infância assim, vivida em meio à natureza e numa família composta por personagens femininas tão marcantes, isto é, animas tão vívidas, não seria estranho que Aline tivesse um interesse por assuntos como o misticismo. Ela encontra isso já entre seus parentes, mesmo na avó, que estudou em colégio de freiras, é católica devota de Nossa Senhora e ao mesmo tempo acredita em signos como influência na personalidade das pessoas e ainda já chegou a dar um baralho de Tarot de presente à filha. "Hoje em dia eu me considero pagã. Desde os 12 anos estudo muitas crenças e mitologias e tenho uma ligação muito forte com a natureza, com os animais. Em casa, eles sempre foram tratados como irmãos e são isso para mim. Choro vendo árvores antigas sendo cortadas, me desespero se vejo algum animalzinho morto, já arrumei briga com pessoas que estavam judiando do seu animalzinho... Acho a natureza o coração de todo nosso mundo, nem sequer existiríamos sem ela. Fico besta com gente que não respeita isso. Acho absurdo", diz Aline.



Trazendo essa inspiração, vivência e sentimento, Aline criou a Aiya, loja que recebeu um nome que, na realidade, trata-se de uma saudação que significa "abençoado seja" em Quenya, língua dos elfos criada por Tolkien. "A idéia é vestir as coisas com significado, usar uma peça que não fosse só um colar, mas que tivesse algo a mais. Na minha casa, por exemplo, tudo tem significado, alguns até espiritual. E isso vai desde um quadro do Darth Vader até o leão chinês virado para a porta. Tudo remete a coisas que gosto e que fazem parte de mim, do meu marido ou que nos protege", explica a artista.

Cansada de usar acessórios apenas por estarem na moda e depois deixá-los de lado, Aline queria peças que pudessem mostrar quem se é por dentro, algo que tivesse uma conexão espiritual com quem as usa. "Cheguei a fazer uma pesquisa sobre lojas com esse pensamento e achei pouquíssimas opções. Acabei por comprar uma peça em uma e achei o atendimento ridículo. E se tem uma coisa que me tira do sério é eu ser cliente e ser tratada com descaso. Sou do tipo de pessoa que vê oportunidade em tudo, além de querer aprender tudo. Não gosto de depender de ninguém. Sempre procuro eu mesma fazer e só se não tiver escolha MESMO é que procuro ajuda", ela conta, rindo. É, parece que Aline realmente herdou a personalidade forte e independente das matriarcas de sua família! :)


Assim como toda marca e ainda mais algo artesanal, é a artista que manda muito o que vai estar ali. No caso da Aiya, como a Aline quer que as peças tenham um significado especial e que este possa interagir com os clientes, seu universo semântico acaba se relacionando com as obras que ela admira, como por exemplo, O Senhor dos Anéis, de Tolkien, mas mais em específico o seu livro Sobre Histórias de Fadas que, segundo a designer, dá um melhor entendimento sobre o mundo criado pelo autor.

Além destas séries de histórias medievais de fantasia, Aline não deixa de apreciar Game of Thrones e também declara ultimamente ter lido muita coisa da escritora Richelle Mead e sua saga Academia de Vampiros. "Apesar de o nome e de as capas geralmente serem bem infelizes, é uma ótima coletânea e ela escreve muito bem", declara. E se é para ler sobre vampiros, Aline também põe na lista a sempre bem-vinda Anne Rice e o indispensável nome da literatura non-sense Lewis Carrol. "Leio muitos livros de contos de fadas, fábulas e mitologias. Quando encontro na livraria esses livros tipo 'Fábulas chinesas', 'Mãe África', nossa, meu coração até palpita! Fora isso, leio muito mangá e quadrinhos", conta.


E por falar em mangá, isso foi justamente algo que me chamou atenção na Aline. Quando eu estava vendo o portifolio dela, reparei numa ilustração que ela havia feito da Sailor Moon e aí fui lendo mais sobre a artista antes de preparar essa entrevista. Reparei que a gente tinha várias coisas em comum. Tanto ela quanto eu crescemos em cidades pequenas do interior de São Paulo e tivemos avós que nos deram essa bagagem artística, apesar de, no meu caso, meu avô não ter uma formação acadêmica. E, lendo as respostas dela, fiquei me lembrando das músicas que minha avó, também devota de Nossa Senhora (no caso, a Aparecida), cantava pela casa, ao mesmo tempo que meu avô também recitava poemas em italiano quebrado, sempre improvisando rimas... passava tardes brincando e desenhando, vendo justamente Sailor Moon na tv heheh... achei isso muito legal. 

Por isso mesmo foi que perguntei à Aline se esse interesse por misticismo e afins teria algo a ver com Sailor Moon ou algo do tipo, porque, em parte, eu passei a gostar disso e de astrologia porque cresci vendo esse anime e também porque, na mesma época, passava Cavaleiros do Zodíaco e Guerreiras Mágicas de Rayearth, aquele seriado Caça-Talentos em que a Angélica era uma fada... havia todo um imaginário propício para as crianças dos anos 90. Para minha surpresa, Aline disse que sim, ela também cresceu assistindo a esses programas. "Sailor Moon e Cavaleiros eram dois animes que eu fazia minha mãe gravar em VHS para assistir tudo depois. E mais para frente foi Guerreiras Mágicas de Rayearth. Com certeza eles influenciaram. Isso vai despertando o interesse em entender o enredo e uma coisa vai levando a outra", diz ela, que inclusive revela ser escorpiana com ascendente em escorpião. Vish! :) Tá explicada a personalidade forte!


Já a nível musical, Aline ouve basicamente metal - pagan death/black, black e avant-garde. "Gosto muito de Mike Patton também, em geral mesmo, desde Faith No More, passando por Fantomas, Peeping Tom e Tomahawk. Adoro a insanidade dele", comenta. Mas, por outro lado, a designer ainda gosta de algo mais suave e feminino que, no caso, é a cantora islandesa Björk e também experimenta alguma coisa dos gêneros noise, harsh noise, industrial e atmospheric. "Hoje em dia as bandas que mais estou escutando são Arkona, Thyrfing, Peste Noite e Arcturus", lista.


Vou confessar que não entendo nada de Pagan Metal... e, ultimamente, eu já nem tenho ouvido mais tanto metal também... hahah.. é mais o meu namorado mesmo que ouve e entende. Eu acabo me voltando mais para o lado folk/neofolk da coisa ou pro atmospheric black metal em vez do pagan da música, então por isso não entendo muito bem. Mas vale a pena dar uma conferida nessas bandas que a Aline mencionou, elas têm uma musicalidade interessante.

E também não deixem de conferir as peças na loja. Especialmente as leitoras que dançam tribal! Sei que algumas de vocês são dançarinas e certamente iam curtir usar alguns acessórios lá da Aiya, porque achei que tinha tudo a ver com o figurino, então dá uma olhada nessas pulseiras, por exemplo:



E eu que nem to na vibe de cervos e alces mwahaha, recomendo:


É isso, gente! Separei algumas peças-chave, mas continuem dando uma olhada lá no site e também acompanhem a loja pelo Facebook ou o blog da Aline, onde ela posta seus desenhos. Espero que tenham gostado dessa entrevista que apresenta melhor a Aline. Acho importante conhecer a artista por trás da marca, ainda mais quando é uma loja de artesanato, um trabalho tão pessoal e tão ligado a quem o faz. :) Até o próximo post!

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