Moda e (sub)cultura: Os simbolismos e a trivialização da caveira
7/15/2013Já faz pelo menos um ano que percebemos nas lojas, tanto no Brasil, quanto no exterior, uma popularização da estética dark e de motivos que antes eram reservados às subculturas gótica e punk, por exemplo. Tachas, spikes, caveiras, cruzes e listras têm se multiplicado em roupas, acessórios e calçados que saem dos nichos e mesmo das passarelas de alta costura, onde muitas vezes os conceitos falam mais alto que a usabilidade, para se tornarem imagem trivial na paisagem urbana. Isto é, o que há poucos anos poderia ser considerado feio ou subversivo, hoje é um adorno fashion e chega mesmo a atrair o gosto do público que outrora se interessaria por motivos mais delicados do que um crânio humano - mesmo que este apareça sorridente e com um lacinho a enfeitá-lo!
Quando fui fazer minha entrevista pro meu TCC com o vocalista da banda Nachtmahr, ele comentou que hoje em dia a Lady Gaga não seria possível de "dar certo" se não tivéssemos, no passado, pessoas como Siouxsie Sioux, por exemplo. Gaga trouxe elementos dos anos 80 como novidades extremas e fashionistas quando, no passado, eram motivos subculturais e reservados a pessoas como, por exemplo, a vocalista da banda de post-punk Siouxsie and the Banshees ou então artistas como Nina Hagen. A moda reinventa e revende algo que, no passado, era agressivo, subversivo e feio para o mainstream e, de repente, sem explicação, se torna lindo e fashionista.
Nem todas as grifes estão preparadas para se adequar à essa estética e, por isso, acabam exagerando demais nos elementos ou se inspiram bastante em coisas lá de fora... desde lojas de departamento tipo Forever 21 ou lojas online tipo Nasty Gals ou então marcas renomadas tipo Louboutin, Jeffrey Campbell e por aí vai. Quem conhece, sabe. E o caso aqui não é tanto o plágio, mas o despreparo para lidar com a questão da subcultura. Estamos quase chegando a um ponto em que não se quer mais lidar com as pessoas e uma cultura, um estilo de vida, mas simplesmente vender e enfiar a caveira, o spike e a cruz onde quer que seja, nem que não faça mais sentido:
For the love of God, de Damien Hirst (2008) |
Alguns mexicanos ainda têm o costume de escrever pequenos poemas, os chamados calaveras (caveiras), que fazem piada com os epitáfios dos amigos falecidos ao descreverem seus hábitos e atitudes com anedotas engraçadas. Isso começou no século 18 ou 19 e, mais tarde, jornais passaram a dedicar calaveras a figuras públicas com desenhos de esqueletos no estilo de ilustradores como José Guadalupe Posada, que inclusive foi um dos responsáveis por criar um novo sentido à figura do crânio, tirando-lhe um pouco da mensagem de "memento mori" e lhe emprestando o sentido de "Carpe diem" ao pôr uma coroa de rosas sobre sua cabeça e criar a personagem Catrina, bastante celebrada no Dia de los Muertos mexicano. Ela, no caso, é uma paródia de uma versão feminina do Dandy europeu do século 20 e serviu ao artista como uma sátira aos mexicanos nativos que Posada acreditava estarem abraçando tais costumes estrangeiros e aristocráticos.
10 comments
Oi! Adorei o seu post, com direito a entrevista com a Miniminou e uma boa história e percurso pelas culturas... Eu postei lá na minha página, divulgando. Abraços!
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Luciana
Folhas de Sonhos artesanatosEsse post ficou sensacional!
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Eu adoro a visão dos mexicanos sobre a morte e as caveiras, também penso da mesma maneira que eles e no mais eu acho lindo o símbolo.
Parabéns pelo post e pelo blog, algumas pessoas já vieram comentar comigo sobre ele!
BjoEu tenho uma pesquisa autoral extensa sobre o simbolismo da caveira, é um trabalho antigo e muito interessante. Nunca publiquei porque ainda preciso confirmar umas passagens que são difícieis de encontrar na web, só indo em biblioteca mesmo. Mas no geral, tem bastante coisa similar à sua pesquisa, o que é legal porque confirma que minhas pesquisas foram no caminho certo. Muito bom!!
ReplyDeleteParabéns pelo post, muito bem escrito. Eu conheço bastante o simbolismo da caveira da Festa do Dia de Los Muertos conheci esta tradição quando fazia aula de espanhol, desde então não tenho parado de pesquisar sobre o assunto seu post é um dos mais completos que eu já encontrei.
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Bj
kawaii-and-macabre.blogspot.com