PUNK BRITANNIA: O retorno do punk na alta moda
5/08/2013Seguindo a tradição das traduções (trava-língua!) aqui no blog, achei uma matéria bem legal escrita por Emma Segal e publicada no NOT JUST A LABEL, que fala basicamente sobre a volta da moda punk nas passarelas e nas tendências atuais. Sem mais delongas, deixo aqui com vocês esse texto bem interessante e que vai de encontro com o que nós, notavelmente, já percebemos estar acontecendo!
Com uma subcultura fashion baseada num ethos de anti-establishment, anti-materialismo e que está sempre "quebrando as regras", a idéia de produzir um "guia de estilo" parece ostensivamente paradoxal. No entanto, nos últimos anos, está havendo um inegável ressurgimento do movimento "Punk" nas grifes, que estão o trazendo de volta ao primeiro plano da indústria. Talvez este seja um sinal dos tempos socioeconômicos; com looks que celebram um desenfreado senso de criatividade, o qual independe do poder aquisitivo, o estilo "punk" é acessível a todos, em certo grau.
É preciso muito mais que isso para verdadeiramente apreciar o movimento punk. Para começar, há inúmeros subgêneros (do cow, techno e glam ao hardcore e gótico) e novas interpretações (tais como o aspecto gótico-punk da coleção Outono/Inverno 12-13 do desfile da Gucci). Porém, há alguns interesses em comum e sinais que ajudam a mensurar esse movimento.
Nós vivemos uma era de moda urbana e de fácil acesso a desfiles. Como consequência, o tradicional fluxo de proliferação tem se invertido. Distante de uma clara definição de idéias indo "da passarela à mídia e às ruas", o processo de influência é agora muito mais simbólico, tanto num nível temporal quanto estético. Isso pode ser explicado conforme a moda punk é um dos primeiros movimentos desse novo "modelo de negócios" aplicado.
O movimento começou no meio dos anos 1970, com a distorção, o rasgo e o desfacelamento de tecidos e de looks mainstream, de modo a mostrar protesto contra o aspecto limpo e certinho do pós-guerra. O movimento e seu ethos, enquanto este inaugurava um novo tipo de moda urbana, eram ao mesmo tempo patrocinados por designers e formadores de opinião tais como Jean Paul Gaultier e Vivienne Westwood (a última fundou as icônicas boutiques "Let it Rock" e SEX, com seu parceiro de negócios e empresário da Sex Pistols Malcolm McLaren). Já no fim dos anos 1970 e começo dos 1980, a comercialização e a "coutourização" da estética punk estava em seu ápice: mais notavelmente por meio de designers como Zandra Rhodes. Mas, no final da década de 1980 e no começo da de 1990, as novas subculturas emergentes (como a grunge) se sobrepuseram à punk. Isso levou à criação de uma grande distância entre a alta costura, aquela apresentada em passarelas, e a moda urbana. Mas quais foram os elementos que fizeram o movimento?
Quando alguém pensa em sapatos punk, é virtualmente impossível ignorar a Dr Martens. Essas icônicas botas inglesas de inspiração militar são ainda uma representação do punk atualmente; suas costuras amarelas são uma presença ainda visível nos blogs de moda urbana. Criada em 1960, o auge da marca foi durante os anos 1970 e 80, quando as botas foram adotadas pela subcultura punk como seus sapatos preferidos. Recentemente, a marca tem apostado num revival que culminou ao seu modelo de 14 buracos o título de "sapatos contraculturais da década". Recentes colaborações com a Liberty, Vivienne Westwood, Preen e Rick Owens também têm posto a marca em círculos de alta moda.
Parecidos são os Brothel Creepers, outro ícone do movimento punk. Apesar de essa volta de interesse pelos creepers ser indiscutivelmente um recente desenvolvimento tanto dos desfiles quanto da moda urbana, esses calçados também alcançaram seu auge de popularidade nos anos 1970. No entanto, diferentemente dos Dr Martens, esses sapatos não são uma invenção do movimento punk.
Historiadores da moda, na verdade, datam os creepers como parte da cena dos Teddy Boys, nos anos 1950. Talvez esse seja o motivo porque eles, eventualmente, adotaram o modelo na moda punk, já que o movimento dos Teddy Boys foi uma outra contra-cultura única que celebrou a individualidade e que evitou o mainstream. A significância moderna dos sapatos creepers foi absorvida pela alta moda quando Karl Lagerfeld escolheu vestir as modelos exclusivamente em creepers customizados, feitos para a coleção Cruise da Chanel, em 2013. Ironicamente, isso fez parecer que os creepers teriam, então, ressurgido de uma raíz subcultural para se tornar um produto da moda, especialmente do mundo da alta moda.
Ainda, é impossível mencionar a moda punk sem falar sobre enfeites e customização, uma das bases de um look desse estilo. Isso é, sem dúvida, o jeito mais fácil e mais econômico de adotar a estética. Seria, no entanto, obviamente absurdo atribuir a arte da customização ao punk apenas, mas há formas específicas que o movimento realmente inventou. Apesar de ser discutível que o uso tanto do jeans quanto do couro possa ser atribuído aos anos 1950 (os jeans, em particular, se tornaram um símbolo de rebelião depois de serem vestidos por James Dean em "Rebelde Sem Causa"), o uso de rasgos e desfiados, studs, couro, xadrez (tartan), caveiras e slogans trazem o punk de volta aos dias de hoje. Camisetas deliberadamente ofensivas, como as "DESTROY" vendidas na SEX, eram particularmente populares. O uso de vários tecidos e estampas diferentes era um interessante subproduto do movimento punk e que foi novamente utilizado nos produtos e na estética de designers contemporâneos como Jean Paul Gaultier e Vivienne Westwood. Em anos recentes, essa influência tem se tornado maior nas passarelas e na moda ready-to-wear. Slogans, especialmente controversos, são usados por grifes como Katharine Hamnett e House of Holland.
Os designs retrô e de estampas variadas de, por exemplo, Meadham Kirchhoff também devem algo (e não é pouco) aos seus antecessores punk. A deliberada tentativa de subverter o estereótipo de gêneros, por meio da combinação da moda feminina, masculina e neutra, é também um subproduto do punk. Além disso, marcas jovens e inspiradas nas ruas, como The Ragged Priest, também emprestaram muito do movimento ao usar o desfiado, os studs e a customização.
Por fim, a explosão dos cabelos coloridos e das garotas platinadas é outra prova óbvia de que o legado do movimento punk tem sobrevivido e retornado. Ande por qualquer rua hoje e você com certeza irá passar por alguém com as pontas ou as raízes dos cabelos coloridas com tons inspirados em (Katie) Shllingford. O salão de beleza já não é mais o único lugar reservado àquelas que querem descolorir os cabelos, agora que houve a introdução de salões em lojas de varejo. Também está ficando difícil de encontrar um desfile ou editorial em que não haja pelo menos uma modelo com cabelos coloridos; de Maarten Van Der Horst e Craig Lawrence até Prada, ou Dazed até Vogue e Elle. Até mesmo a idéia do cabelo "bagunçado e desfeito" pode ser reconhecido do fim dos anos 1970.
O punk está de volta e, ironicamente, de uma forma que vai contra sua reputação anti-materialista. Mas ao ser abraçado por designers e pela moda urbana, isso significa simplesmente que esse legado pode ser modernizado e pode evoluir de formas cada vez mais interessantes.
7 comments
Muito bom o texto. É irônico e, ao mesmo tempo, tentador, ver o punk adotado pela moda mainstream. Pessoalmente, preferia que apenas os designers e as pessoas que realmente se identificam com o estilo ou com o que ele representa, e que já o assumiam ou flertavam com ele entrassem nessa
ReplyDeleteMatéria excelente! A MTV foi até´nas ruas perguntar o que os PUNKS acharam da exposição. Nenhum deles sabia e as respostas foram realmente suaves O.O http://www.districtmtv.co.uk/article/topic/style/1npr61/a344b66a-ea54-4500-8e0d-85915f137926/ifdagw
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